Perícopes Confessionais...

Perícopes Confessionais...

Por mim mesmo como ser possuidor de dúvidas e complexidades também tive a sensação horrível de estar solitariamente esquecido e abandonado. E como a religião habitava a casa do meu ser, estes complexos, e doenças iam se instalando dentro de mim. Ao que nem preciso ir além... Em suma a culpa, ou melhor, como diz o Barbudo “esquisito”: “A falsa culpa”, era literalmente se sentir culpado quando não havia culpa alguma...

É interessante que mesmo dentro da coisa (religião), e a coisa de certa maneira dentro de mim, mensagens de Deus (não estou falando de pregação pulpitífica, mas, da reflexão sobre a Palavra encarnada por meio do evangelho simples e puro) como aquela ao profeta Elias de que 7.000 mil não haviam se prostrado a Baal, me renovavam a esperança...

Lembro-me que até dois anos (2008) atrás eu não suportava o poeta cristão “da” teologia relacional canária, especialmente quando surgiram aquelas questões que envolveram ele e o Sacerdote Chanceler sobre Teologia Relacional, Teologia do Processo e Teísmo Aberto que no fim da tudo no mesmo buraco. Lembro-me que o que residia em mim pelo moço da Água Branca era pena, desprezo, rejeição. Achava-o um herege, liberal, e o pior... Pobre de reflexão. Não me dava conta de que eu é que era um asno de ser e de alma. O porre que tomei deve ter sido grande. A maconha estava estragada, e garanto que não usei páginas do Apocalipse, pois meu coração estava tão petrificado e minha mente tão cauterizada como diz nosso amigo Paulo que eu estava fumando nas folhas Lei...

Sobre o Barbudo “esquisito” eu era apenas um curioso. Sabia pouco sobre ele. Lembro-me que cheguei a ler um livreto dele (ano 2000) e na minha “sapiencial intelectualidade” parecia ou queria não gostar. Nesta época eu era “discípulo” de sacerdotes institucionais, senão admitia isso, tenho que reconhecer que o era ao menos inconscientemente. Engraçado é que quanto mais os anos se passavam, mais fria e distante a relação dos “guias religiosos” comigo e vice-versa ia se tornando. Embora nunca dissesse isso para alguém era assim mesmo que eu me sentia. Parecia mera relação comercial e de interesse. Todos nós sujamos os pés, as mãos, o corpo inteiro não precisa nem falar...

E o pior exteriormente eu era um padrão de menino bonzinho, ao ponto disso ter se tornado “neurose” e em dados momentos levando-me a crer, ainda que eu não o dissesse, mas, internamente assim cria e pensava que eu era um paradigma de vida piedosa. Carreguei comigo alguns troféus e tolices do tipo que nós enquanto religiosos de mentalidade de gueto levamos conosco o tempo todo. Ai o Paizinho de Amor me deu algumas porradas santas para eu começar a deixar de ser moleque e menino que fica barganhando tudo com Ele o tempo todo, e foi me lapidando (como continua até a volta dEle), libertando-me de mim mesmo e desse meio podre que causa horror...

Hoje eu confesso que amo o moço da Água Branca sem nunca ter visto ele pessoalmente. Escuto inúmeras mensagens dele. Há uma em especial por título “O evangelho dos evangélicos”, a qual partilhei em amor com um grande amigo que foi libertadora tanto a mim quanto a ele, que vez por outra eu escuto, a fim de expelir os demônios da religião que insistem querer me persuadir. Outra mensagem libertadora a mim e ao meu amigo foi “Pela regeneração de nós mesmos no evangelho” do Barbudo “esquisito”.

O mundo ao nosso redor esta cheio de fanáticos religiosos aguerridos defensores de suas instituições, doutrinas e regimentos. Tenho de confessar que a maioria é um pé no... Um dia desses no trabalho chegou um religioso falando um monte de coisa, e eu do outro lado apenas ouvindo. De repente outro religioso começou a pregar para ele e entraram em um debate, e foi uma ladainha e uma baboseira daquelas que nem preciso me prolongar. Agora, na boa?! – Foi até humorado para mim. Sério. Deu uma vontade de rir. Sem deboche. É engraçado como a “alma religiosa” tem uma impulsividade em defender “deus”, em advogar para “ele”. O primeiro homem disse assim: “Vai sair um filme que vai parar o mundo, Chico Xavier”, ao passo que o segundo respondeu: “Se não nascer de novo e aceitar a Jesus vai para o inferno com filme e tudo” (Embora isso seja verdade, sem amor deixa de ser verdade e torna-se terrorismo pagão).

Na boa a TV esta perdendo estes caras. Comédia pura. Pois, na boa?! – Se o cara estiver falando a respeito da pessoa de Jesus como Senhor da nossa consciência, do nosso viver, e razão do nosso existir eu até me esforçaria para compreender, mas, esta linguagem “religiosa” que faz uso da bíblia com letra que mata e não se deixa ser tocada pelo Espírito da verdade em amor e pela Palavra encarnada passional que vivifica já esta tão recauchutada que não consigo mais engolir.

Sendo assim recorro às palavras de um amigo: “Afinal não há como abandonar as drogas indo visitar as suas bocadas”. Tenho alguns amigos e irmãos que continuam nos meandros e guetos religiosos, todavia (quero crer) que o coração e a consciência deles já saíram de lá faz tempo, estão apenas por acompanhar um cônjuge, companheiro (a), ou questões de abrangência familiar, bem pouco importa as justificativas ou explicações, mas, é como o Barbudo “esquisito” diz: “Este é o caminho que eles escolheram chamar a existência de suas vidas”. Algum tempo atrás renunciei a tudo que consumia tempo e vida (ou morte na verdade), eu estava literalmente desistindo do “ministério” para ficar aos cuidados do mistério, pois afinal Deus não me tirou de uma religiosidade clerical para me enfiar em outro curral religioso que no fim em quase nada diferia do anterior!

Há alguns que consigo escutar. É o caso daqueles já citados, pois “suas” mensagens falam sempre de misericórdia, perdão, cura e possibilidade de recomeço, e não trata de assuntos importantes com descaso ou silêncio, e nem com posições cerradas, fechadas. Abordam questões que tocam na ferida, mas as tocam para limpar, tratar e curar. Há gente boa de Deus para se ouvir e crescer com “seus” ensinamentos, mas hoje caminho sem aquela idolatria ainda que não confessada, mas, que é estampada nos prosélitos.

Acredito que estas dúvidas existentes serão (vão sendo) esclarecidas no dia a dia do chão da vida. O agravante é que alguns foram violentados de dentro e de fora no reduto religioso de maneira tão perversa que parecem não conseguirem recomeçar. A religião inseriu em nós muitas mazelas e só aos poucos serão removidas, é um processo que leva tempo. Tenho consciência de que fiz algumas escolhas erradas. Que fui imaturo e que não sou meramente vítima de tudo. Sou homem para assumir minhas fraquezas e tolices.

Hoje como tenho escrito: "Estou em processo constante de construção... Um andarilho que se desvia da estrada da religião, ao passo que na dura estrada em Cristo faz o "seu" caminho evocando e chamando à realidade a vida, re-significando o que fora... Alguém que como o filho pródigo estava perdido e foi encontrado... E que agora prossegue sendo pacificado por Ele que suaviza a alma e o ser...

João Vicente Ferreira Neto

Comentários

Esther disse…
Todos nos somos contaminados em alguma medida. Temos ídolos,construímos bezerros de ouro...nem sempre sabemos identificar o Verdadeiro, mas no deserto temos a oportunidade de quebrar todos o s ídolos e começar a caminhar com o Deus vivo e verdadeiro...
Abraço.
Esther Carrenho