Os jumentos e os asnos


Os jumentos e os asnos

“Quem despediu livre o jumento selvagem, e quem soltou as prisões ao asno veloz, ao qual dei o ermo por casa e a terra salgada por morada? Rí-se do tumulto da cidade, não ouve os muitos gritos do arrieiro. Os montes são o lugar do seu pasto, e anda à procura de tudo o que está verde”.

O jumento é conhecido pela sua proverbial burrice. Quando “empaca” tem-se que acender fogo sob as suas virilhas para movê-lo do lugar. É ele quem carrega as nossas cargas por milênios, e ainda hoje há civilizações inteiras que o usam para esta finalidade. Já o asno veloz vive só, mas é livre e ninguém parece cobiçar o seu território. Sua liberdade vem do desprezo que se dá àquilo que ele preza!

No entanto, tanto um quanto o outro – coisa que acontece entre jumentos e asno – riem-se do tumulto da cidade, desprezam os gritos do arrieiro, e comem de Graça. Carregam a carga dos outros, mas seu alimento independe disso: eles comem de Graça!

Já os humanos, que os subjugam, têm que usar em desespero todos os dias para levar alimento, a fim de sustentar a loucura das cidades. E de quem é esse “riso” que se esconde atrás do jumento ou do asno, se não o riso do próprio Deus?!

Ora, se nos afadigamos pelo pão enquanto aquele a quem nós chamamos de “jumento” e de “burro” trabalha “forçadamente” para os humanos – pois come de Graça por habitar um território não disputável - , quem é, então, o “burro” da história? A fartura do “burro” vem de seu gosto por aquilo que os “inteligentes” desprezam!

Caio Fábio de Araújo Filho

Trecho do Livro: O Enigma da Graça

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