Caminho da Graça: Instituição x Institucionalização
Caminho da Graça: Instituição x Institucionalização
Muita gente pensa que criei uma denominação a um estilo evangélico light em razão do surgimento do “Caminho da Graça”. Mas não poderiam estar mais enganados em seus julgamentos.
Na realidade, como passei minha vida toda dizendo, instituições são entes impossíveis de não serem criados em qualquer que seja o ajuntamento humano.
Ajuntamento humano constante, freqüente, harmônico, coeso no mesmo objetivo e nas mesmas compreensões, inevitavelmente institui-se como um ente coletivo, seja qual for o elemento de sua junção — cultural, esportiva, espiritual, política, etc.
Assim, digo: pelo próprio compromisso com os conteúdos de sua identidade, pessoas que se encontram umas com as outras de modo comprometido e em razão de algo maior do que elas mesmas — fazem nascer uma instituição.
Reconhecimento e afinidade geram instituição.
Do mesmo modo instituição é fruto da convicção comum.
Aonde quer que pessoas se encontrem, e o façam em razão de uma convicção comum, ali há uma instituição, mesmo que seja nos encontros do bar da esquina.
Ora, nesse sentido, até este espaço virtual do meu site, pela convergência de milhares de pessoas que a ele se ligaram pela convicção, e em razão de cuja convergência veio a surgir naturalmente o Caminho da Graça — é também uma instituição.
Minha luta nunca foi contra a instituição; pois, tal luta é tão inglória e tola quanto correr da própria sombra.
Minha luta sempre foi contra a institucionalização.
A instituição é fruto do que é. Já a institucionalização põe o que é a serviço de algo que já não é, posto que apenas um dia foi.
Ora, o que é sempre tem primazia sobre o que foi, pois, o que é está existente e vivo hoje, e o que já foi não passa de uma referencia, mas já não deve determinar aquilo que agora se faz real.
O principio do Evangelho acerca do que se institui pela verdade da realidade e da necessidade, em contra partida àquilo que um dia foi, mas hoje já não é, nos é apresentado por Jesus por duas imagens — dos odres velhos e novos, e da veste velha e do pano novo.
Instituição é validada pela sua validade existencial, pela sua relevância, pelo seu significado real para a vida hoje.
Institucionalização é o esforço presente por manter o passado e suas regras humanas de ontem, válidas hoje, mesmo que ninguém consiga ver a sua significação.
Instituição é um ente vivo. Sim! Porque feito de gente!
Institucionalização é a ditadura dos defuntos.
Assim, o pano novo e o vinho novo correspondem à instituição do que é, do que é relevante, do que é necessário, e do que é verdadeiro e sincero com a realidade.
Do mesmo modo, a veste velha e o odre velho, com seu vinho velho, correspondem à institucionalização.
Jesus disse que era para não se tentar instituir o novo no velho instituído, pois, jamais haveria compatibilidade.
Se algo é novo em relação a algo que pela sua existência se torna velho, então é porque neles habita uma distinção de significado essencial.
Assim, a verdadeira instituição se converte à verdade e à realidade, se re-generando. E faz isto mediante o arrependimento que se manifesta como pertinência e capacidade de se transformar, revelando tal capacitação em cada novo encontro com a vida e com a realidade.
Já o que se faz instituído como algo fixo (institucionalização) deseja vestir para sempre os homens com as vestes de ontem, e almeja que cada nova geração goste do mesmo vinho produzido num ontem eterno. Assim, o que antes fora vinho novo, tendo sido condicionado por um odre de imutabilidade, pode hoje já não ser nada além de um vinagre.
Desse modo, digo: o Caminho da Graça é uma instituição pelo simples fato de milhares de pessoas — seja pelo site, seja em razão dos encontros nas dezenas de grupos e Estações — afirmarem sua convergência de convicção nas mesmas coisas, confessando harmonicamente os mesmos objetivos fundados no Evangelho, e, de modo relativo e secundário, expressos de forma atualizada nos conteúdos expressos neste site.
Entretanto, o principal conteúdo do Caminho da Graça é sua disposição de existir em metanóia permanente, no permanente encontro entre a Palavra e a existência.
Assim se espera que o processo não cesse jamais de se converter ao novo, conforme a revelação do Evangelho, o qual, é Palavra viva, e se re-atualiza a cada nova realidade ou geração.
Voltando ao assunto de eu estar criando uma denominação.
Na realidade, caso minha consciência não fosse como é, ou seja, filha da esperança de ver o Evangelho sendo experimentado em minha geração, já hoje, apenas pela via do site, o “Caminho da Graça” já teria centenas e centenas de grupos, com pastores de todas as denominações, com muitas propriedades, e até com seminário.
Por quê?
Ora, é que quase diariamente recebo propostas de todos os tipos, desde pastores desejosos de virem para o Caminho da Graça com suas comunidades, até aquelas de grupos de igrejas que desejariam se dissolver e ganhar a placa (o que jamais existirá) do “Caminho da Graça” nas portas de seus templos.
Eu, entretanto, digo a todos que não daria certo, pois, segundo o Evangelho, ninguém que tenha se acostumado ao vinho velho dirá que o novo é excelente.
Sim! É total perda de tempo, pois é como colocar remendo de pano novo em veste velha.
O trabalho de desconstrução dos vícios da religião velha não vale o esforço, segundo Jesus.
O Reino está aqui. Está à mão. Quem desejar, deixe o que tem, e siga o Evangelho.
Desse modo, o que digo é que o Caminho da Graça não é uma “denominação religiosa”, pois, apesar da inevitabilidade da instituição, nosso modo de ver e sentir a experiência da fé, não tem qualquer outra referencia absoluta senão o Evangelho em sua simplicidade, fugindo nós de tudo aquilo que signifique o emoldurarmento da experiência do tempo presente, evitando a tentação de que a experiência de hoje se torne perene nas formas e nos modelos quando estes já não forem pertinentes ou próprios em outra geração, tempo, ou realidade.
Hoje mesmo cada Estação do Caminho da Graça já tem sua identidade e modos próprios, conforme a cultura e sensibilidade das pessoas do lugar.
No Caminho da Graça as formas e modos são tão variáveis quanto variáveis são as realidades que culturalmente nos constituem.
Os odres e as vestes são circunstanciais e generacionais. O Evangelho é que nunca precisa mudar, nunca necessita ser adaptado aos sabores de novos conteúdos, posto que a essência da Palavra é imutável em seu espírito.
Assim, que ninguém veja o “Caminho da Graça” como uma nova denominação evangélica light, pois, no que nos diz respeito, buscamos o compromisso como uma forma permanente de mudança, conforme a Palavra e o Espírito nos convençam em relação à realidade de hoje ou de qualquer outro tempo posterior a este.
Para quem desejar mais detalhes, recomendo a leitura do livro de minha autoria intitulado “O Caminho da Graça Para Todos”. Quem desejar basta pedir na loja do site ou, então, pode escrever o nome acima no espaço de “Busca”, e, assim, achar o texto do livro, e que se encontra nos conteúdos deste site.
A Videira Verdadeira nos dá o vinho novo a cada nova geração. Cabe a nós ter a coragem de trazermos odres novos, assim como cabe a nós vencer a tentação do remendo de pano novo em veste velha.
O que se espera é que tão somente nos vistamos com a nova vestimenta, feita do pano novo da Graça de Deus em nossa geração.
Nele, que é o Evangelho imutável,
Caio
13/04/05 - Lago Norte / Brasília
Comentários