O Príncipe de Maquiavel



O Príncipe de Maquiavel

É uma observação sistemática da história, onde os objetivos da ciência mudam no renascimento.

Quando comparamos esta obra com a república de Platão considerando o contexto histórico temos algumas distinções evidentes: A república é escrita na idade antiga, tem a Grécia como pano de fundo, e a proposta de um mundo ideal onde a justiça é exercida pela(s) divindade(s), já a obra o príncipe é escrita na idade média "moderna", tendo a Itália como local de análise, e o mundo real onde a justiça é exercida pelo estado.

Maquiavel viveu em uma época de profundas transições/transformações que foi da teologia ao conhecimento científico, onde chamamos renascimento.

Há temáticas evidentes como tipos de estado: bom e mau; Formas de governo: república (aristocracia e democracia) e monarquia ou principados (hereditários e/ou mistos - união de dois principados quando ao menos um deles é hereditário); E bases de poder: virtu, armas e fortuna.

O axioma que diz "o ser humano é moralmente virtuoso" é balela para Nicolau. No estado não há bons e maus, todos são bons e maus. A VIRTUosidade do estadista/governante reside no exercer e permanecer no poder. As questões são meramente racionais, e estão baseadas na ordem de estado."Chegar ao poder não é difícil, o árduo é permanecer no poder".

O estadista/governante tem que fazer o que é bom/mau para ser amado/respeitado, pois estes são os mecanismos que o LEVAM AO e que o FAZEM PERMANECER no poder.

O interesse pessoal é privado, enquanto o interesse de estado é público, a união de força e astúcia levam a estabilidade no poder.

A política em algum momento levará o estadista/governante a circunstâncias as quais ele não está preparado. Todavia o estadistas/governante responsável é aquele que faz o que é interessante ao interesse de estado.

As três bases de poder para Maquiavel são a VIRTU do príncipe que podemos chamar de segredo/razão de estado, ou seja, aquilo que mantém estabilidade, harmonia e equilíbrio de estado. Não tem componente ou característica moral, não se trata de virtude ou de razão particular/privada, mas de um equilíbrio suficiente de maneira racional, VIRTU é o que sabe equilibrar. As ARMAS são o conhecimento e a FORTUNA o dinheiro. Ludibriar que para os sofistas em Platão e Aristóteles não era virtude, e sim engano, em Maquiavel é uma VIRTU de estado para promover o interesse e estabilidade de estado. Ludibriar para Maquiavel não era algo particular/privado.

Realidade e filosofia são diferentes, onde "boas idéias não transformam o mundo, e não elegem ninguém", na obra Política como vocação, texto de 1868 escrito por Max Weber o autor fala a respeito da política moderna e sobre a profissionalização da política, ou melhor, "políticos profissionais".

O bem para Maquiavel é aquilo que o ESTADO poder promover para sua estabilidade, e este bem pode incluir coisas más.

No mundo medieval religioso os reis eram assessorados pelos líderes religiosos (bispos, papos e alto clero), enquanto no novo mundo (renascimento) os príncipes eram assessorados pelos humanistas.

No século XV tínhamos estados absolutistas nacionais na Europa: França, Portugal, Espanha, Itália e Holanda.

Neste contexto temos o filme Na roda da fortuna (1994), além dos poemas e textos dramáticos manuscritos do século XIII conhecidos como Carmina Burana, onde O Fortuna, Imperatrix Mundi recebe maior destaque.

Na obra de Maquiavel há ainda os condottieres ou mercenários que são aqueles que não tem compromisso com os estadistas/governantes e nem com o estado. São instáveis e se rendem com facilidade ao dinheiro, o seu "verdadeiro" príncipe.

Maquiavel "sempre" foi republicano, sua obra principal foi o príncipe, para ele o bom governo é aquele que é estável, e sua preocupação é com a ética do estado. Na sua percepção todos querem poder, e as diferenças de governo não suas formas, mas as gestões, Max Weber fazendo uma crítica diz que é necessário o equilíbrio entre vontade, convicção o que conhecemos por ideologia(s) e responsabilidades, ou deveres.

O estado deve promover o bem, mas os meios corretos são diferentes dos meios bons (bondade), o estadista/governante deve procurar sempre fazer o bem, mas as vezes é necessário fazer o mal, o príncipe é uma obra que ensina como conquistar e manter o poder, e isto inclui quando necessário quebrar os contratos e desrespeitar direitos, o que conhecemos por "os fins justificam os meios". É relevante ressaltar que esta afirmação foi construída pelos teóricos acadêmicos que estudaram Maquiavel ao longo da história, e que jamais foi proferida pelo mesmo. Neste quesito a ética deontológica onde os meios justos só produzem fins justos cai por terra.

Há momentos que a verdade não deve ser dita ou ser omitida visando um fim maior, seja pensando no indivíduo ou no estado. O estadista/governante deve ser "insensível", uso único da razão, o mesmo não deve usar o coração. Maquiavel não fala a respeito do mundo ideal abordado pelos filósofos da Grécia antiga (Platão e Aristóteles), e sim do mundo real onde a realidade nua e crua é dura.

VIRTU deriva da palavra VIR cuja etimologia vem de VIRIL, VARÃO aquele que tem força e capacidade de conquista "da mulher" que é a FORTUNA da mitologia grega e romana. Dai a ideia da roda da fortuna, ou seja, a história cria situações que não podem ser previstas. Na história sempre haverá espaço para o inesperado. Hoje tudo vai bem, e amanhã tudo pode ir mal, "O processo histórico prevê a instabilidade" (Max Weber).

Só passado pode preparar o estadista/governante para o futuro. A observação do passado é crucial/essencial para que se possa entender o presente e construir o futuro, sendo assim a VIRTU em Maquiavel não pode ser o débil mental do varão inconsequente, mas alguém frio e calculista.

João Vicente Ferreira Neto

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