Uma noite qualquer de novembro...
Vancho Novikov
Uma noite qualquer de novembro...
Duas moças, duas histórias, uma mesma estrada com caminhos diferentes.
A primeira tem um nome cuja origem é obscura, e com várias possibilidades, seu significado é "pequena guerreira", a que veio alguns minutos depois tem um nome de origem italiana que significa "defensora da humanidade".
BR-230 era a estrada que levara ambas ao seus lares.
A pequena guerreira estudante do bacharelado em química.
A defensora da humanidade é celetista em uma lanchonete de fast food de hambúrgueres há 4 anos.
A pequena guerreira saíra de um restaurante japonês onde jantara com amigos.
A defensora da humanidade saía da sua jornada de trabalho em um shopping center.
A pequena guerreira é uma mulher branca.
A defensora da humanidade é uma mulher negra.
Ambas residem na cidade portuária, mas em bairros distintos.
Ambas moram a aproximadamente 600 metros do mar, porém as realidades são antagônicas.
Ambas residem com seus pais.
A pequena guerreira com seu papai e sua mamãe.
A defensora da humanidade com sua mamãe e seu irmão.
A pequena guerreira é filha única, e estudou em uma escola particular durante todo o período que antecedeu a entrada na Universidade Federal.
A defensora da humanidade tem um irmão e uma irmã, estudou a vida inteira em escola pública, e agora tenta uma vaga em uma faculdade privada.
A pequena guerreira reside em apartamento próprio localizado em bairro nobre.
A defensora da humanidade paga aluguel de uma casa em bairro com menos estrutura.
A pequena guerreira sonha alcançar o pós doutorado na sua área e se tornar professora e pesquisadora com experiência e currículo internacional.
A defensora da humanidade deseja de imediato receber uma promoção que a leve à gerência.
A pequena guerreira voltava para casa pagando no cartão de crédito.
A defensora da humanidade pagou em dinheiro.
A pequena guerreira não tinha horário para chegar em casa.
A defensora da humanidade que pegou a corrida às 1h15 da madrugada trabalhou horas a mais por causa da black friday, e por conta disso perdeu a última condução que passara às 23h.
Ambas educadas, gentis, com angústias e esperanças, ambas voltavam para casa em um veículo cujo condutor era o mesmo, a estrada também, mas cujos caminhos eram distintos.
Não há problema algum com a história e trajetória da pequena guerreira, o que é desonesto é alguém cobrar que a defensora da humanidade tenha o mesmo desempenho e progresso que a pequena guerreira.
O ponto de partida não é o mesmo, é injusto falar em meritocracia em um país tão desigual.
Tudo isso aconteceu em uma noite qualquer do mês de novembro...
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