Retrato Cruel do Cotidiano


Retrato Cruel do Cotidiano


Eles Citam apenas o que lhe convém: “a salvação é pela graça”, mas ignoram, omitem ou até apagam a parte que afirma: “a fé sem obras é morta”.

Um dia comum na semana de trabalho, sol de meio dia (a pino) e o funcionário - trabalhador ou colaborador? - sentando em um banco de madeira à meia-sombra precisando de um vale para comprar os remédios da família e o gás de cozinha que acabou.

Enquanto isso, o patrão bem-sucedido (herdeiro), cristão e defensor da tríade do mal — “Deus, pátria e família” — chega em mais um de seus carros importados, híbrido, conquistado não pelo próprio suor, mas pelo esforço de trabalhadores miseráveis que sustentam seu luxo.

Esse trabalhador, depois de quase duas décadas, finalmente entende que o discurso meritocrático — “acorde mais cedo, faça em dobro, enquanto os outros dormem” — não passa de um disfarce para a velha exploração da mais-valia.

Do outro lado está o trabalhador, preto, acusado de ser “invasor” de um pedaço de terra abandonada, esquecida, num canto sujo da comunidade. Terra que nunca interessou a ninguém — até a especulação imobiliária estender seus tentáculos por ali.

O patrão ocioso da zona nobre e o trabalhador explorado da periferia apenas compartilham a mesma cidade; além disso, não têm nada em comum.

Na mesma cidade, dois mundos: o do herdeiro da zona nobre e o do trabalhador da periferia. A desigualdade ergue muros invisíveis entre eles, a desigualdade os separa.

Esses exploradores — como disse Nina — “construíram o paraíso deles nas terras dos oprimidos, enquanto prometem aos trabalhadores que o paraíso deles está no céu”.

É obsceno lucrar milhões ano após ano e pagar salário mínimo a quem carrega sobre os ombros a verdadeira responsabilidade.

É criminoso enriquecer por décadas às custas de vidas adoecidas e ainda pagar o mínimo a quem sustenta toda a estrutura.

 

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