A infância e a infantilidade


A infância e a infantilidade
por Eustáquio Neto

A vida é feita de fases. Todos sabem disso e isso do mais culto dos homens ao mais indouto. Basta um pouco de sensibilidade e reflexão para perceber que vivemos fases. É impossível, no curso normal da viva, freiar as fases, pois elas vão acontecendo, percebamos ou não, queiramos ou não, gostemos ou não. Mas digo “no curso normal”, pois na normalidade da existência as fases vão sendo vivenciadas uma pós a outra.

Assim é a vida. Todos têm um destino, e não falo de destino no sentido místico, mas como trajetória, carreira, vida, existência. O salmista diz “já fui menino, hoje sou velho”; o apóstolo diz “quando eu era menino pensava como menino, sentia como menino”, assim afirmam as Escrituras.

Uma das fases de nossa existência é a infância. Ela é o início, a fase alfa da nossa caminhada como um ser independente, mas totalmente dependente. Ali tudo é novo. Vamos experimentando as coisas, e elas, mesmo as mais simples, são enormes descobertas. O leite, a papinha, as primeiras frutas, as sopas, as comidas mais sólidas e etc. Agente vai progressivamente experimentando as coisas e ao mesmo tempo vai crescendo e crescendo. Depois, nada de leitinho, de papinha, de certos cuidados, certos afagos e de certos tratamentos.

A infância vai ficando lentamente e naturalmente para trás. É assim que é o natural. Mas quando o natural é freiado, por um motivo ou por outro, surge o inatural.

Quando a infância avança para outras estações surge o inatural e a esta estação de inaturalidade chamamos de infantilidade. A infantilidade não é natural. Não faz parte das estações naturais. A infantilidade é problema, é doença na trajetória, pois a infância é o que é porque é processo normal ao seu tempo, mas a infantilidade é problema porque é infância fora de tempo.

Paulo criticou os coríntios por sua infantilidade ao dizer “não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco agora podeis”. No início, quando pregou aos coríntios, eles não podiam ainda compreender algumas coisas, mas tudo bem, eles estavam ainda na infância. Mas continuaram na infância num momento que não poderiam mais, então é dito “nem tampouco agora podeis”, ou seja, sofriam de infantilidade.

Infância é normal, faz parte do processo de crescimento, é saudável, mas infantilidade não. Infantilidade é doença no processo de crescimento, é apego a uma fase que já passou, é querer viver intencionalmente ou não em uma fase que não se pode mais viver.

À semelhança de Paulo, o autor de Hebreus também faz menção à infantilidade por parte de seus leitores ao dizer: “devendo ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite e não de sólido mantimento”. “Pelo tempo” é a expressão chave. Não era mais tempo de infância para aqueles irmãos, mas a insistência na infância mostra que eram infantis fora de tempo, ou seja, sofriam de infantilidade.

Infância ou infantilidade? Muitos vivem no processo natural da infância e isso é absolutamente normal e saudável, mas também muitos vivem com comportamentos infantis em suas vidas de adultos. Isso é infantilidade. Agem como crianças em uma época em que se deve agir como adulto. Brigam por qualquer coisa, crêem em qualquer coisa, são enganadas por qualquer falastrão, perdem o foco da caminhada com qualquer distração à beira do caminho, ressentem-se por qualquer coisa, abalam-se com qualquer coisa, temem desesperadamente as tempestades quando solapam o barco, entristecem-se com pouca coisa, perdem a esperança facilmente, se irritam com quase nada e outras coisas mais.

Na caminhada cresceremos naturalmente, isto é, cada fase a seu tempo. Alguns estão na infância, outros já passaram, mas todos continuam crescendo. Aquele que se percebe na infantilidade examine-se a si mesmo e creia que Deus quer você vivendo cada fase a seu tempo. Ele nos chama para crescermos à semelhança de seu Filho, nosso amado e amigo Jesus. Tenhamos confiança que “aquele que começou a boa obra em vós a de conclui-la até o dia de Jesus Cristo. Chega de infantilidade em um momento que já se deve ser adulto!

Escrito em dias de janeiro de 2010

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