O Mistério da Casa Verde - Final...?!


Um pouco de tudo se encontra aqui. Aventuras da infância, suspense e ação, poder e razão, médico e escritor, humor e amor...

Demorei chegar até aqui. Ouve em mim um misto de resistência e perplexidade. Certamente a melhor fala sobre o Mistério da Casa Verde, não é minha, não do Scliar, mas do próprio "alienista", encerro a "minha" percepção sobre a obra com uma fala "final" do personagem...

"Quando todos estão acomodados, ele se volta para o público e declara, em tom imperioso: 
- A ciência é meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.
Começa então narrar a sua história: os estudos em Coimbra e Pádua, a volta do Brasil, o casamento com dona Evarista: 
- Feia? Sim. Mas tinha condições anatômicas e fisiológicas de primeira ordem: digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha visão excelente.
Resolvido o problema conjugal, a busca do caminho profissional:
- Descobri que não havia no reino nenhum especialista em doença mental. O que me surpreendeu: a saúde da alma é a ocupação mais digna do médico. A ela resolvi, pois, me dedicar. Para isto precisava de um lugar onde pudesse internar os doentes, a fim de observá-los e estudá-los. E aí surgiu a Casa Verde: este local em que agora estais representa a materialização dos meus sonhos. Foi inaugurada com imensa pompa: de todas as vilas e povoações próximas, e até remotas, e da cidade do Rio de Janeiro acorreu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias. E aí... torrentes de loucos. De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Comecei a suspeitar que a loucura não era apenas uma ilha perdida no oceano da razão, era um continente. Para onde eu me voltava, via loucos. E comecei a mandar todos eles para a Casa Verde.
E o monólogo prossegue: Simão Bacamarte enfrentando a rebelião da vila, Simão Bacamarte recuperando sua autoridade, Simão Bacamarte mudando subitamente de idéia e expulsando todos os internos da Casa Verde, Simão Bacamarte recolhendo-se ao hospício. E aí vem um momento lírico: o momento em que ele se apaixona pela portuguesa Ana, aquela que tomava conta do lugar e do próprio Simão Bacamarte. O alienista faz-lhe ardentes declarações de amor. Mas essa paixão não dura muito: doente, ele vem a morrer. A cena da morte é impressionante: deitado num catre, à luz de uma vela, o alienista se despede da moça:
- Dirão de mim, Ana, que eu morri louco com sempre fui. Não é verdade, Ana. Aqui aprendi muita coisa. Sou agora melhor pessoa do que era quando aqui entrei, Não foram os livros que me ensinaram a viver, Ana, foste tu."

João Vicente Ferreira Neto



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