Entre a dúvida de amar e a certeza do miguar...
Entre a dúvida de amar e a certeza do miguar
Pairam muitas dúvidas sobre o ser...
Exceto uma, nunca antes foi tão vulgarizado o amor!
No tempo em que mais se pode desfrutar da liberdade à confundiram com escravidão...
A cicuta se tornou o cálice preferido desta geração, não há qualquer interesse na razão, não compreendem que pensar já é uma ação!
E não uma qualquer, mas talvez a mais árdua...
Poesia já não há, daí a razão de não se ouvir mais profundas e belas canções...
Necessidades todos possuem,
Mas jogaram no mesmo cesto as coisas singelas e simples da vida com tudo o que é pesado, raso e causa indigestão, indisposição...
Assim, tanto faz vestir uma roupa ou troca-la como tocar e entrar em uma alma e dela sair de modo banal e trivial...
Há conexão cujo o alicerce é a desconexão...
Precisam da certeza do fim antes mesmo do começo para sentirem a eterna paz que os angustiam...
Há alguns encontros, muitos desencontros e cada vez mais, raros reencontros...
Se passa um pelo outro como a lama que devastou Mariana, sem sensibilidade, e com um violento desejo, é o prazer pelo contraditório?!
Supridos os anseios e saciada a fome própria se segue adiante deixando para trás o que não se tem mais interesse, o que não se tem mais desejo...
Quando mais se pode ter liberdade, escolhem escravidão, o mais angustiante?
Não se dão conta da situação!
Quanto maior a diversidade...
Quanto maior a pluralidade...
Maior a ansiedade!
Maior o desencontro, inclusive de si!
Quanto mais seguros de si e pés no chão, agem como máquinas, achando ter razão, quando não se tem sequer coração,
Mais perdidos estarão...
Do lado de fora muitas certezas,
Dentro? Angústias e contradições...
Do lado de fora contagioso riso,
Dentro? Tristezas, lágrimas e amarguras...
Do lado de fora "amor",
Dentro? Rancor, insegurança e dissabor...
Trocaram a dádiva da dúvida pela mediocridade da segurança,
A geração que vulgariza o amor tem escolhido sobreviver se alimentando de migalhas à viver com pratos sustentáveis...
Preferem semear em oásis de tempo em tempo, afinal quanto mais variado o cardápio, melhor! Será?! À sedutora idéia de fazer florescer no deserto...
O que é mais atraente: o nu revelado ou o que está encoberto?
Onde entra a imaginação?
É mais prazeroso o que está pronto ou o que se vai construindo?...
Construindo entre erros e acertos, podendo dosar e temperar a gosto...
E por qual razão uma angústia perene, um vazio constante e uma incompletude crônica?!
Trocaram a dúvida de amar pela certeza do miguar...
Trocaram a dúvida do amor por receio dos cortes que poderiam sofrer pela insossa companhia, basta que esta supra uma necessidade de momento...
Não se troca o certo pelo duvidoso?!
Há dúvidas que são necessárias e essências para que possamos chegar as certezas que desconhecemos, mas anseiamos...
Há dúvidas que precisam ser vividas, e certezas que precisam ser descartadas,
Ao escolher a mediocridade da certeza em detrimento da dádiva da dúvida...
Banalizaram o amor, mataram a poesia...
Sobrevivem, mas não vivem...
João Vicente Ferreira Neto
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