Mas João, o que aconteceu com aquele menino bom?!



Mas João, o que aconteceu com aquele menino bom?!

"Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um que é Deus"

Não entrarei em uma análise textual, teológica ou similar em relação a esta fala de Jesus. Apenas mergulharei no sentido existencial.

Já há alguns anos que inevitavelmente, vez ou outra me encontro com pessoas que tive a oportunidade de conviver durante os 12 anos que estive inserido dentro do presbiterianismo protestante ou protestantismo presbiteriano, como queiram.

Há muita gente boa lá dentro? Sem dúvida alguma. 

Até hoje tenho uma relação muito boa e sadia com a maioria deles. E posso dizer que tenho amigos que lá estão, mesmo eu já não estando.

Todavia como é comum, em todos os lugares há sempre duas dúzias de pessoas cujos os valores estão arraigados na intolerância, seus princípios são norteados pela estupidez, e o seu dEUs se chama indiferença.

Daí a razão do título: Mas João, o que aconteceu com aquele menino bom?

"De pregador fervoroso, de líder nato e formador de opinião entre adolescentes e jovens, de moço bom, referência para juventude, dedicado e organizado nos afazeres a amigo de homossexuais, lésbicas, defensor de causas promiscuas, companheiro de maloqueiros, maconheiros, drogados, gente maluca cheia de tatuagem que só frequentam lugares fétidos, sujos e hostis. Mas João, o que aconteceu com aquele menino bom?"

Jesus que estais nos céus e habita em nossos corações me dizeis, qual foi a parte do evangelho que eu não compreendi ou foram eles que nada entenderam?

Toda bondade que reluze em mim, se há alguma, nada mais é que reflexo da graça que com graça me agraciou.

"João, a coisa que eu mais lamento é que justamente quando você começou a fazer as melhores reflexões do evangelho, quando você começou a viver o seu melhor momento como indivíduo, você saiu da igreja!"

Mas como eu posso sair daquilo que sou parte integrante? 

Como posso me desligar de algo inerente ao meu ser? 

Seja no sentido sócio-político ou existencial! 

Agora se tratando de prédios erguidos sob ferros e concretos, ou ainda instituições regidas por manuais e regras atendendo os caprichos e as vaidades de algumas "famílias", disto não faço parte, não mesmo!

"João e você não acredita mais em céu e inferno, não acredita no pecado?"

Céu e inferno são experiências que começam aqui. Cada um escolhe seu céu e inferno diário. 

Outros são vitimados pelos infernos causados dos céus de outros, é só pensar no que ocorreu em Minas Gerais há uma semana, por causa da ganância de dois grupos uma cidade inteira foi devastada, vidas foram ceifadas, e outras tantas também, afinal o rio que era doce se tornou amargo, o monte que era alegre se tornou triste, e R$ 250 milhões de multa não trarão nada do que falei de volta, especialmente as vidas. E o que são estas cifras diante do que estas mesmas empresas doaram aos partidos nas últimas eleições presidenciais?

Pecado é o descaso com o outro.
Pecado é podendo fazer o bem, não fazer.
Pecado é a sede pelo poder, é ser dominado pelo capital, é o ser possuído pela ganância.
Pecado é a insaciabilidade por querer cada vez mais, mesmo que isto traga morte e destruição.
Pecado é mais que sentir ódio, pecado é não sentir nada, o nome disto é indiferença.

O esteriótipo de menino "bom" eu sempre vou ter, este é meu estigma, especialmente quando corto o cabelo, tiro a barba, coloco os óculos, seguro um livro, vestidamente apresentável com fala mansa, suave e de entonação firme me comunico com as pessoas. 

Mesmo que aquilo seja só capa. Típico sepulcro caiado, lobo com pele ovelha, mas que agrada esta gente chata, santarrona, que defende a "família e os bons costumes". 

Eles gostam destes seres sem identidade própria, socialmente construídos para atender suas demandas.

Mas eu sou um ser subversivo, não sou de me dobrar as demandas e aos caprichos de grupos sectaristas, segregacionistas, misóginos, que buscam prosélitos que possam ser cauterizados por seus venenos.

Eu sou João, o inacabado, o incompleto, cheio de imperfeições, sempre em construção, buscando ser manso de espírito, tentando superar os monstros e preconceitos que habitam os porões da minha alma e que estão entranhados no meu ser. 

Não sou João pé de feijão, embora queira ter sabor, não sou João de barro, embora seja tão sujo quanto o barro, e queira voar a cantar como o pássaro, mas se sendo amigo de putas, prostitutas, mendigos, homossexuais, lésbicas, travestis, negros, alcoólatras, drogados, tatuados e todos os demais tipos de pessoas que sofrem e padecem algum tipo de discriminação e preconceito, então...

Eu quero ser João o menino mau, e não mais o menino bom, antes João de dEUs, agora João de Deus...

João Vicente Ferreira Neto

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