O Estrangeiro com Guilherme Leme

Guilherme Leme fora de rumo em O Estrangeiro

Inspirado pela corrente filosófica existencialista, o romance O Estrangeiro, (leia o livro é só clicar e baixar) de Albert Camus, vira um monólogo inconsistente sob a direção de estreia da atriz Vera Holtz em montagem homônima da Galharufa Produções (RJ). O texto muito bem adaptado por Morten Kirkskov não encontrou em Guilherme Leme um intérprete capaz de transmiti-lo com a certeza, a densidade e a complexidade necessárias.

O ator não vai além de uma interpretação rasa e imatura. Criou um Patrice Mersault, o protagonista, que nem de longe aponta para um encontro com a angústia congelada e circunspecta tão caras a Camus.

O escritor franco-argelino fez um personagem bastante controvertido e de difícil compreensão, mesmo. Mersault é avesso ao convencional, tanto no comportamento como no pensamento. Desenraizado, indiferente, sombrio e introspectivo, ele camufla a angústia e o vazio existencial sob uma máscara de frieza e cinismo. É um dos personagens mais apáticos da literatura. Mas por meio de Guilherme Leme, a apatia ganha uma expressão tola, de alienação e frivolidade. Mais um empurrãozinho em direção ao rumo errante tomado pelo ator e seria possível imaginar Mersault como um garotão de praia “boa vida” e irresponsável.

O apoio cenotécnico, cool e minimalista, perde o sentido sem a contrapartida do ator. O cenário, sombrio - uma única cadeira perdida no breu nebuloso - promete uma profundidade que nunca chega. A trilha sonora de música incidental faz um suspense desperdiçado. A iluminação também é bem idealizada. Maneco Quinderé usa focos de luz e uma luminária móvel, grande e quadrada. Rebaixada e somente acesa na cena crucial do enredo, ela dá a idéia da luz do sol sobre a cabeça do protagonista. Não há mérito na equipe, todavia, que amenize o desconforto de um monólogo sem um ator bem situado.

O Estrangeiro não é o que se pode esperar de uma pessoa comum, identificada com a sociedade. Meio obscuro, peculiar, é um homem que se deixa levar pelo acaso e por justificativas vazias. Revela em seu próprio julgamento não ter sentido a menor vontade de chorar no dia do funeral da mãe. Também justifica no tribunal que internou a mãe num asilo não somente por falta de recursos financeiros, mas porque não tinha o que conversar com ela. No dia seguinte ao funeral, passa um agradável domingo tomando banho de mar com uma mulher desejada e depois vai ao cinema com ela assistir a uma comédia. É amoral e politicamente incorreto. Depõe favoravelmente ao colega cafetão interrogado pela polícia por agressão física a uma prostituta.

Mersault parece viver bem essa vida solitária, banal e vazia de sentido até o dia em que comete um assassinato à queima-roupa sob o sol escaldante da Argélia. A vítima é um desconhecido árabe que cruza seu caminho na praia. No julgamento, ele alega um motivo dos mais torpes para o crime: o incômodo causado pelo sol quente na cabeça. Mais julgado pela conduta esquisita, suspeita, do que pelo assassinato de um mero árabe em terras colonizadas pela França, ele é condenado à execução. No desfecho, já resignado com mais essa “peça” que o destino lhe pregou, agrada-lhe a idéia de ser odiado pela população. Meio herói e metade anti-herói, o Mersault de Camus costuma ser amado ou odiado. Já o de Guilherme Leme não chega a tanto. Tudo o que se quer é dormir e esquecê-lo.

Por: Vanessa Martins de Souza

Ficha técnica

Texto: Albert Camus

Direção: Vera Holtz e Guilherme Leme

Adaptação: Morten Kirkskov

Tradução: Liane Lazoski

Interpretação: Guilherme Leme

Iluminação: Maneco Quinderé

Cenografia: Aurora dos Campos

Trilha e Música Incidental: Marcelo H

Produção: Galharufa Produções

Duração: 60 minutos

Fonte: http://www.curitibainterativa.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=16920

Leia mais: http://oglobo.globo.com/cultura/rioshow/mat/2009/02/05/vera-holtz-estreia-como-diretora-em-estrangeiro-peca-com-guilherme-leme-754275742.asp



Guilherme Leme convidou Vera Holtz para dirigi-lo nesse monólogo adaptado do texto de Albert Camus em torno do homem Banal, arrastado involuntariamente por uma torrente de acontecimentos.

Programa Circuito Livre

Repórter: Flavia Luz

Produção e edição: Helena Carvão

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=v4hALiOlVAg


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