Burocratas do sagrado - Parte II

Burocratas do sagrado
quarta-feira 9 de maio de 2007

Entrevista com Leonardo Boff: Da hierarquia católica hoje ninguém espera novidades. Que Roma santifique Oscar Romero.
Sergio Ferrari, E-Changer

João Sobrinho: “Nosso melhor teólogo”

A conferência de Aparecida foi precedida por uma sanção direta de Roma ao padre jesuíta João Sobrinho, uma das vozes restantes da Teologia da Libertação. Como interpretar essa sanção neste momento?

Na minha opinião não tem muito haver com Bento XVI. Quem, em 1986, participou da reunião com representantes da Conferência de Bispos do Brasil, com cardeais da Cúria e com o Papa de então em pessoa, traz consigo o conflito existente neste momento com a Teologia da Libertação.

O resultado desse encontro foi francamente positivo. E se expressou com o envio de uma carta do Papa a esta Conferência Episcopal na qual dizia: “... a Teologia da Libertação não é só oportuna, mas útil e necessária e representa uma nova fase na tradição do pensamento teológico’. Depois desse sucesso oficial, o Cardel Ratzinger deixou de atacar a Teologia da Libertação.

Como, então, pode-se entender hoje a sanção contra João Sobrinho?

Sua condenação é obra - como insinuada em sua carta ao Superior da Companhia de Jesus - do grupo de cardeais latino-americanos presentes na Cúria Romana, que nunca aceitou realmente as determinações da Carta Papal de 1986 aos bispos do Brasil.

Os nomes são conhecidos. O principal é Alfonso Trujillo, da Colômbia, obsessivo perseguidor dos teólogos da libertação, que havia prometido que iria destruir Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e João Sobrinho.

Até agora havia conseguido prejudicar o Gustavao e a mim. Faltava somente João Sobrinho. E parece que agora completou sua obra perversa. Não há dúvida alguma que alguns de seus aliados, como o outro colombiano, Darío Castrillón Hoyos, o mexicano Lozano de Barragán e um do Brasil, o suiço Kart Josef Romer, ex-bispo auxiliar do Rio de Janeiro, que agora está em Roma, foram os que lançaram as primeiras acusações contra mim e que culminaram no meu processo no Vaticano.

Não me surpreende em nada, conhecidos como aduladores que são de qualquer autoridade suprema, que queiram prestar “bons serviços” ao atual Papa. Limpando o caminho para a sua visita ao Brasil, condenando o nosso melhor teólogo, sobrevivente do martírio que viveu toda a sua comunidade jesuita em 1989, em El Salvador.

Tradução: Frineia Rezende

Fonte:

http://www.ciranda.net/spip/article1324.html

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