Burocratas do sagrado - Parte V
“São Romero da América”
Difícil terminar este diálogo sem tocar em um tema de certa notoriedade midiática, a pressa em santificar o Papa João Paulo II. Nao se fala mais de de suas posições contra o processo sandinista na Nicarágua e seu silêncio frente a guerra pela qual passou este país nos anos oitenta. Tão pouco se menciona o apoio do Vaticano à hierarquia católica que abençoou, na Argentina, o golpe militar de março de 1976, a brutal repressão posterior, os desaparecimentos ...
Grande parte dos santos que Roma proclama são santos por interesses políticos, por exemplo santos que reforçam posições de poder na instituição. Com ou sem milagres, o Vaticano pode facilmente proclamar a santidade de João Paulo II, por mais que atitudes contraditórias guardadas em sua biografia, especialmente sua relação extremamente comprometedora com o Presidente Ronald Reagan e com a CIA, tanto na Nicarágua quanto na Polônia. Geralmente, Roma busca satisfazer as diferentes tendências. Proclamam João XXIII como santo e simultaneamente a Gregório XVII, reacionário e portador de vícios pessoais. Agora seria bom para nós que, junto com João Paulo II, santificassem simultaneamente Oscar Arnulfo Romero, verdadeiro santo que morreu como mártir, misturando seu sangue com o sangue da eucaristia. Seria, assim,o primeiro santo reconhecido da Teologia da Libertação que em seu seio conta com tantos torturados, desaparecidos ou assassinados pelo poder repressivo.
Tradução: Frineia Rezende
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