A Autoridade Secular e a Obediência do Cristão


A Autoridade Secular e a Obediência do Cristão

Há um pano de fundo histórico que não pode ser desconsiderado. O catolicismo era o representante máximo da cristandade até o fim do século XV. A igreja na época não deixava claramente questões abrangente a Autoridade Secular e a Espada.

O monge alemão Martinho Lutero o "paladino da espada do príncipe" se prontificou a escrever justamente sobre tal temática, e a partir dos seus escritos modificações nas relações entre Igreja e Autoridade Secular se sucederam.

Através de inúmeros textos bíblicos que davam base de sustentação para a argumentação, uma vez que a bíblia era uma palavra de ordem divina superior a todas as demais da e para a "sociedade" da época, bem como por meio da ideia de salvação pública e o bem comum, Lutero encontra justificativas para a legitimação do poder soberano.

Ao ser entregue por Judas aos soldados romanos no jardim do Getsêmani, Jesus presencia Pedro cortando a orelha do soldado Malco, e naquele momento ordena a Pedro a guardar a sua espada. Eis aí a ideia das duas espadas: uma material e outra espiritual. Lutero mostra que o cristão obedecia pela fé, enquanto o não cristão ou "pagão" somente obedeceria pelo uso da espada.

Lutero faz uma viagem histórica, teológica e política pela bíblia desde Gênesis para confirmar sua argumentação, e assim ele diz: "Portanto, existem clareza e certeza suficientes quanto ao modo pelo qual a espada e a lei seculares devem ser empregadas de acordo com a vontade de Deus: para punir malfeitores e proteges os justos". A vontade de Deus por meio de um apanhado de textos sagrados validam a discussão acerca da temática em questão perante os príncipes e o povo. Assim ele "elimina" o "contra poder" exercido pela igreja, abrindo o caminho para o Absolutismo do príncipe.

Também como Thomas Hobbes, Lutero afirmava e defendia que a natureza do homem era corrompida. Mas que o cristão pela fé vivia em estado de obediência, e assim como seu líder máximo e "senhor" (Jesus Cristo) não pagariam mal com mal, antes se submeteriam às autoridades constituídas, uma vez que as mesmas foram estabelecidas por Deus.

Na concepção de Lutero os cristãos obedeciam por internalizarem os princípios, ordenanças e mandamentos, enquanto os "pagãos" "obedeciam" apenas "exteriormente". "E assim Deus institui os dois governos, o [GOVERNO] espiritual, que molda os verdadeiros cristãos e as pessoas justas por meio do Espírito Santo sob Cristo, e o governo secular [WELTLICH], que reprime os maus e não-cristãos e os obriga a conservarem-se exteriormente em paz e a permanecerem quietos, gostem ou não gostem disso".

João Vicente Ferreira Neto


Aspectos políticos da Reforma: LUTERO, M. Sobre a autoridade secular. Trad. Hélio Barros e Carlos Matos. São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp. 3-34.

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