Quem tem medo de Marina?




Quem tem medo de Marina?

Eu cresci com medo do bicho papão, do boi da cara-preta, do velho do saco, da comadre florzinha e outros personagens da cultura popular. Mas, de gente só tive medo mesmo de ladrão, assassino, estelionatário, usurpador, falsário, e de tantos outros que se ocupam do crime. 

No entanto, hoje, após a morte do ex-candidato à Presidência Eduardo Campos, vejo diversas pessoas, muitas delas instruídas, com medo de Marina Silva. 

Mas, pergunto-me, por quê? 

Ela tem todos os requisitos necessários para candidatar-se e governar um país. 

Não fosse assim, com certeza não seria sequer cogitada para o cargo de vice. 

Sua luta pelo meio ambiente, sua marca política e pessoal, rendeu-lhe prêmios internacionais, como o que ela ganhou na Noruega. 

Em 2013, foi eleita pela Revista Época como uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil. 

Além disso, não poderíamos deixar de mencionar sua trajetória política, iniciada como vereadora, e a mais votada, da cidade de Rio Branco em 1988. 

Daí em diante, não parou mais. Foi deputada estadual em 1990, novamente com uma votação expressiva; senadora em 1994, reeleita em 2002 e nomeada como Ministra do Meio Ambiente em 2003, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Em uma postura corajosa, enfrentou o desafio de candidatar-se à Presidência da República em 2010. Não ganhou, mas arrebatou 19 milhões de votos, dentre os quais, em apoio aberto à sua candidatura, estavam nomes de grandes artistas e intelectuais brasileiros, como Wagner Moura, Nando Reis, Lenine, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Marcos Palmeira, Adriana Calcanhoto, Fernando Meirelles, Arnaldo Antunes, Leonardo Boff, Xis, Alex Atala e muitos e muitos outros. Reparem bem nestes apoiadores. 

Poderíamos enxergá-los como fundamentalistas, fanáticos religiosos que votam por pura cegueira? 

Não, mil vezes não! 

São pessoas instruídas e de mente aberta, que enxergam não a religião da Marina Silva em primeiro lugar, mas seus predicados, suas qualidades, suas habilidades, que, diga-se de passagem, fizeram-na percorrer uma trajetória política exemplar, onde não lhe faltaram a ética, o decoro e o respeito ao povo e aos seus colegas parlamentares. 

Mas, nada disso parece suficiente, pelo menos para aqueles que só enxergam a Marina religiosa, optante, democraticamente, pela religião evangélica. 

O que é um erro, um retrocesso, uma gritante discriminação em função da religião, digo, da religião evangélica. 

Penso que, às vezes, as pessoas esquecem que vivem em uma democracia, onde o cristão protestante tem tanta liberdade do que quer que seja quanto um ateu, um budista, um espírita, um agnóstico e por aí vai. 

Toda e qualquer pessoa deve ser julgada para um cargo, ou para o que quer que seja, por suas habilidades profissionais e pessoais, e não por sua opção religiosa. 

Veem Marina como um perigo em razão da sua crença religiosa. 

Se existe um perigo, que perigo é esse? 

É um perigo maior que a corrupção que temos visto? 

É um perigo maior que a falta de ética, de respeito, de compromisso com a coisa pública que tanto tem sido noticiado na mídia? 

Não, ela não representa um perigo, pelo menos não em razão da sua fé pessoal, afinal de contas há evangélicos e evangélicos, como há católicos e católicos, espíritas e espíritas e por aí vai. 

Não podemos homogeneizar as pessoas de determinada crença. 

Ela luta por um país justo e digno para TODOS. 

O Brasil de Marina é o meu Brasil, é o seu Brasil. 

E o Brasil que queremos não é o Brasil do jeitinho, da falta de ética, do analfabetismo, da miséria, da falta de oportunidade, da corrupção. 

E é claro que se ela for eleita, ela não governará só, existe a Câmara, o Senado, o Judiciário, o povo, a mídia e todos os elementos que interferem nas decisões políticas e sociais. 

Portanto, por que ter medo de Marina?

Vistadores não aliviará!

Lizziane Azevedo

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