Como Compreender as Pessoas – Criaturas Dependentes: Somos Seres Pessoais



“Conhece-te a ti mesmo” com esta célebre frase o filósofo grego Sócrates trouxe ao mundo do conhecimento não apenas uma simples contribuição, mas, sobretudo uma profunda reflexão concernente a vida humana. A sentença socrática é um convite a tornar-se consciente da própria ignorância, como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. Alguns séculos depois somos convidados pelo Senhor Jesus Cristo a fazermos tal reflexão, todavia com um cunho bem mais emblemático e intrínseco ao ser e a alma humana. Enquanto o ensino de Sócrates se dá (restringi-se) no campo da “gnose”, ou seja, na busca pelo conhecimento que traz deveras construções a existência e a realidade do ser humano, por outro lado temos um convite feito por Jesus para a auto-reflexão, a auto-análise, um encontro e confronto consigo mesmo, ou seja, que esta para além do simples conhecimento adquirido por leituras e práticas. É uma investigação acurada do ser e da alma.

Jesus nos ensina por seu próprio modo de caminhar, e nos convida a isso. Por meio da regra de ouro dos evangelhos: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lucas 6.31)1, ou seja, esta é uma extensão mais aguda da proposta estabelecida por Sócrates, pois Jesus nos convida a uma confrontação com tudo aquilo que se encontra no porão do nosso ser e da nossa alma, não se limitando aos ensinamentos filosóficos e religiosos ensinados até então e que estavam surgindo na sua época. É literalmente ir além do que se está posto. Não contentar-se com o berço esplêndido da mediocridade. É ver além do óbvio.

A leitura proposta como recurso didático, parte da complementação e/ou grade curricular e elemento integrante da disciplina é de suma importância pelo fato de nos colocar diante de uma problemática tão antiga como atual citado por diversas vezes no texto pelo autor como “âmago oco”, ou seja, a alma humana profundamente angustiada, abatida e solitária, é literalmente o vazio do ser e da alma. A partir dessa pequeníssima expressão o Dr. Larry Crabb apresenta o ponto de tensão do capítulo e do livro (a falta de dependência de Deus) e nos convida ao encontro da dura realidade de confrontar a si mesmo. A obra como um todo é um tanto quanto diferente de outras obras já publicadas quanto ao assunto. Sem desviar-se dos princípios bíblicos, o autor nos apresenta um trabalho sério e inovador sobre o aconselhamento. Neste capítulo precisamente somos levados a compreender que Deus como nosso Criador e Senhor espera muito mais fracassos de nós, do que nós mesmos possamos conjecturar ao nosso respeito, não afirmo isso para propagar ou salientar qualquer tipo de idéia perniciosa que nos leve a prática do pecado, mas por tentar exercitar a consciência que ainda corrompida por causa do pecado, reconhece pela graça libertadora de Deus evidenciada em Cristo e operada no coração pelo Espírito Santo. Pois somos de fato seres miseráveis, continuamente inclinados para o mal, mas que Deus assim como nos tirou do lamaçal do pecado (“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”)2, agora atua retirando de dentro de nós a lama que tanto nos corrompe (“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”; “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”)3. Nessa viagem de auto-exploração ou descoberta de nosso âmago perpassarão dúvidas, angústias, medos e vários embates se darão dentro de nós. Sentiremos tanto resistência quanto confusão, pois encontraremos coisas que são difíceis de enfrentar, que machucam e condenam4.

Como citamos o ponto de tensão se dá no campo da dependência ou não que o ser humano tem de Deus, e a extensão ou entendimento dessa dependência se dá através dos relacionamentos humanos. Para não ficarmos no campo da abstração voltemo-nos para a realidade perceptível e reflexiva das coisas e da vida no seu dia-a-dia. Tomemos como exemplo a Trindade, partindo da idéia de uma comunidade de Deus. “Por Deus ser, por sua natureza, um ser afetivo (há três pessoas na Trindade capazes de inter-relacionar-se), o homem, criado para ser semelhante a Deus, é também um ser que se inter-relaciona. Fomos feitos para o relacionamento com Deus e com as outras pessoas. Segue-se que, nas partes mais centrais do nosso ser, ansiamos por desfrutar aquilo para que fomos projetados a vivenciar. Ansiamos por relacionamento5.

Somos convidados a reconhecer e admitir humilhados e humildemente a nossa inteira e total dependência de Deus. Que Ele de fato é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2.13). Que não podemos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas que a nossa capacidade e suficiência vêm do Senhor (II Coríntios 3.5). Somos levados as cavernas desérticas para que Deus possa desconstruir todas as certezas alojadas no porão do nosso ser e no âmago de nossa alma, afim de que Ele mesmo possa construir a única certeza que teremos para todo o sempre, de que Ele estará conosco: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém6. Necessitamos de um abandono de si mesmo nos braços do Pai de eterno amor para que Ele cuide de cada ranhura e ferimento. Que Ele no trate conforme Lhe apraz, e que nossa vida seja um pouso e esteja repousada aos cuidados dEle para ser curada, restaurada e edificada. Que sejamos de ser e de alma consolados pela palavra que diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito7. Que o derramar de nossas vidas esteja nELe, pois: “Bendito o homem que confia no SENHOR, e cuja a esperança é o SENHOR8. Que a nossa oração seja como a do profeta Jeremias: “Cura-me, SENHOR, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor9. E só assim o nosso ser será pacificado e nossa alma será liberta das amarras da dor e do sofrimento pela esperança que é o Senhor.




Bibliografia:

1 – HTTP://www.bibliaonline.com.br/ra/lc/6

2 – http://www.bibliaonline.com.br/ra/ef/2

3 - http://www.bibliaonline.com.br/ra/fp/3

4 - CRABB, Larry. Como Compreender as Pessoas – Fundamentos Bíblicos e Psicológicos Para Desenvolver Relacionamentos Saudáveis, Capítulo 7, p. 117-118, Editora: Vida, 4º Impressão – 2001, São Paulo/SP

5 - CRABB, Larry. Como Compreender as Pessoas – Fundamentos Bíblicos e Psicológicos Para Desenvolver Relacionamentos Saudáveis, Capítulo 7, p. 117-118, Editora: Vida, 4º Impressão – 2001, São Paulo/SP

6 – http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/28

7 - HTTP://www.bibliaonline.com.br/ra/rm/8

8 - http://www.bibliaonline.com.br/acf/jr/17

9 - http://www.bibliaonline.com.br/ra/jr/17


Comentários

Unknown disse…
Muito interessante a visão do autor quanto à alma humana, quando ele a descreve como: profundamente angustiada, abatida e solitária e a define como: “âmago oco”.
Isso comprova a necessidade que o homem tem de Deus. O autor enfatiza esse fato ao dizer que: “Ansiamos por relacionamento” e que: “Fomos feitos para o relacionamento com Deus e com as outras pessoas”. “Ansiamos por desfrutar aquilo para que fomos projetados a vivenciar”.
Somos totalmente dependentes de Deus!
Que Deus te abençoe John! =*