A síndrome do marido maravilhoso

Mais um edificante texto divulgado como pré-reflexão para o IV Encontro de Líderes no Sertão, evento cristão que acontece na cidade de Itaporanga, na Paraíba, de 19 a 22 de outubro. Nele, a psicóloga Isabelle Ludovico diz o seguinte: "Este título de um artigo do psicólogo Alberto Lima, publicado há muitos anos, chamou minha atenção sobre esta realidade. Tenho em mente um desabafo de uma amiga, esposa de um pastor de renome: “Demorei muitos anos para descobrir que eu não era apenas a sombra dele, mas que tinha luz própria!”. Lembro de outra amiga, casada com um artista famoso, que luta até hoje para sobreviver ao lado de um ego tão inflado. O que dizer do provérbio popular: “Atrás de todo grande homem, existe uma grande mulher!”.

De fato, parece que muitos homens desenvolvem um brilho tão ofuscante que não sobra lugar ao seu lado, apenas papéis subalternos de bajuladores e serviçais. São pessoas empreendedoras, carismáticas, sedutoras que conseguem arrebanhar admiradores e vão aos poucos desenvolvendo um personagem idealizado que enfatiza as qualidades e camufla as fraquezas. Assim como, no mito de Narciso, a ninfa Eco é condenada a repetir “maravilhoso, maravilhoso!”, este homem não aceita críticas e questionamentos."

Mas o seu sucesso na vida pública não se sustenta na vida privada, na intimidade do lar. Este homem educado, sociável, inteligente, brilhante, reserva suas atenções para as pessoas que o admiram. Em casa, porém, mostra-se mal-humorado, calado, pouco disponível, distante, sempre cansado e irritado. Não é companheiro, joga-se na frente da televisão ou enfia-se num jornal, responde às perguntas de forma evasiva, não convida a mulher para sair e a acompanha de má vontade nos compromissos pessoais. Sua mulher e filhos percebem esta ambigüidade e ficam num grande dilema. A mulher pode se contentar em ser invejada pelas amigas e esconder cuidadosamente a sombra de seu companheiro. Muitas se rendem à imagem pública e passam a desempenhar papéis coadjuvantes, vivendo um faz de conta onde não há espaço para descobrirem seu valor pessoal. Ao negar suas limitações, este homem de sucesso acaba projetando-as nas pessoas mais próximas que ficam a mercê desta imagem distorcida e não conseguem enxergar seu próprio potencial. Outros, principalmente na adolescência dos filhos ou na crise de meia idade da mulher, tentam virar a mesa e denunciar esta farsa. A mulher entra em depressão ou passa a ser crítica e os filhos podem apresentar sintomas físicos, buscar refúgio em drogas ou adotar um comportamento rebelde.

Esta pode ser a grande oportunidade de tirar as máscaras e abrir espaço para uma verdade libertadora para todos. A mulher que se anulou para que ele brilhe pode descobrir sua própria contribuição na luz que ele irradia. Geralmente ela tem qualidades consistentes de hospitalidade, serviço e reflexão. É uma pessoa profunda, que sabe ouvir e encorajar os outros. Além de reconhecer suas qualidades, ela precisa aprender a receber e precisa se dar o direito de colocar limites. Ele precisa admitir sua fragilidade, sua superficialidade, sua insegurança para descobrir que pode ser amado apesar delas. A relação se fortalece nesta nova parceria onde cada um percebe a contribuição do outro e a possibilidade de fertilizar-se mutuamente. Ele desce do seu pedestal e encontra um acolhimento nesta mulher que pode finalmente descobrir o seu lugar ao seu lado. Os filhos conquistam o direito de serem reconhecidos e desenvolver suas características pessoais num ambiente de respeito das diferenças e de encorajamento.

Em vez de delegar a responsabilidade pela sua vida ao marido e limitar-se a sofrer calada ou aprimorar o papel de vítima, a mulher precisa resgatar em Deus a sua verdadeira identidade de filha amada, capacitada pelo Espírito e chamada a uma vocação pessoal e intransferível. O homem precisa ter a humildade de assumir sua sombra e abrir mão do reconhecimento público para descobrir-se acolhido por Deus incondicionalmente, não pelos seus méritos, mas apesar de seus pecados, como Pedro foi acolhido por Cristo após tê-lo traído. Quando experimentamos esta aceitação na hora que nos sentimos mais inadequados, somos libertos da compulsão de seduzir para sermos amados e podemos então ter a coragem de nos mostrar como somos, com toda a nossa humanidade.

Artigo escrito por Isabelle Ludovico da Silva, psicóloga com especialização em Terapia Familiar Sistêmica.

Fonte/Link: http://www.agenciasoma.org.br/sys/popMaterias.asp?codMateria=rpGR52uG28uW&secao=show

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