A Suave Graça


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22 E, chegando a Betsaida, algumas pessoas trouxeram um cego à presença de Jesus e rogavam-lhe que o tocasse. 23 Então, Ele tomou o cego pela mão e o conduziu para fora da aldeia. Em seguida, passou saliva nos olhos daquele homem e pôs as mãos em cima dele. E perguntou: “Vês alguma coisa?”. 24 O homem levanta os olhos e afirma: “Vejo pessoas; mas, elas se parecem com árvores caminhando”. 25 Mais uma vez, Jesus colocou suas mãos sobre os olhos do homem. E, no mesmo instante, tendo sido completamente restaurado, via com clareza, e podia discernir todas as coisas.

Esta é uma história do poder e da graça de Cristo. É uma história da graça bondosa de Deus. Quando Jesus foi abordado pelas pessoas com relação à condição do homem cego, sua primeira atitude foi “levar o homem cego pela mão”. Certamente Jesus tinha poder para curar o homem ali mesmo. Todavia, o Senhor conduziu o cego para distante da multidão, para ministrar-lhe em particular. O cego não era um espetáculo para os curiosos ficarem observando. Nosso Senhor dirigiu os passos do homem. Nunca em sua vida o cego tivera uma direção tão segura. Não havia perigo de cair, nenhuma ameaça de tropeçar, pois ele estava sendo conduzido pela mão de Cristo.

Se o gesto carinhoso de Jesus terminasse naquele ponto, já seria o suficiente. O cego poderia contar a história até o final da sua vida: “Ele me tocou!”. Jesus, porém, ainda não tinha terminado. Quando se afastaram da multidão, Jesus fez algo que poderia ofender nossa sensibilidade. Ele passou saliva (cuspe) no rosto daquele cego. Nos nossos dias fazer isso é uma atitude desrespeitosa. A finalidade de Jesus, entretanto, não era de ofender, mas curar.

A história desta cura nos serve como um (a) paralelo (comparação) da renovação espiritual. A Bíblia usa a figura de linguagem da cegueira para descrever nosso estado caído. Todos nós somos seres nascidos cegos. Entramos neste mundo num estado espiritual de escuridão. Não vemos as coisas do reino de Deus. Assim, podemos aprender duas verdades básicas na caminhada cristã com este texto: 01. Regeneração - O ato da graça pelo qual nossos olhos são abertos para as coisas de Deus é a regeneração, o novo nascimento espiritual. É uma obra que somente Deus pode fazer. Não somos mais aptos de regenerar a nós mesmos do que um cego é capaz de ver por um simples ato de sua vontade. Um homem cego pode decidir ver, mas não pode ver a menos que seus olhos sejam curados. A regeneração não ocorre em estágios. Ela é instantânea. É feita pelo toque do Espírito Santo em nossos corações, ser e alma. É uma obra soberana e totalmente eficaz, acompanhada pelo poder imediato da onipotência de Deus. Somente Deus pode tirar algo do nada e tirar a vida da morte “Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados” (Efésios 2.1); 02. Santificação - No entanto, há outro paralelo na história da cura do homem cego. Embora sejamos regenerados instantaneamente pelo poder soberano de Deus e sejamos transferidos imediatamente do reino da escuridão/império das trevas para o reino da luz/reino do Filho do Seu amor (Colossenses 1.13), nossa santificação é realmente em estágios;

A regeneração é Deus nos tirando da lama, nos tirando do poço. A santificação é Deus tirando a lama de dentro de nós. Ele nos coloca na Fonte da Água Viva e nos purifica exterior e interiormente. Embora as escamas sejam removidas dos nossos olhos, ainda precisamos ser guiados pela mão de Jesus. O grande equívoco, lapso e erro comum que nós cristãos cometemos sobre regeneração e santificação é ilustrado pela história da carreta. Imagine você sentando na poltrona do motorista de uma carreta e tendo que guiá-la, considerando que você nunca fez isso antes (É assim para a maioria de nós a regeneração). Agora imagine você se colocando atrás da carreta e tendo que a empurrar, considerando que ela esteja cheia de cargas e ela precisa ser empurrada na subida de uma ladeira de baixo ao topo (É assim para a maioria de nós a santificação). O que ambos os casos tem em comum? O esforço, a fadiga, o trabalho, o mérito humano. Qual é o nosso grande ERRO? Exatamente pensar que fazemos alguma coisa (que contribuímos) para ambos os estágios (regeneração e santificação).

Mais uma história: Sísifo – foi um herói trágico da mitologia grega. Em virtude dele ter ofendido os deuses, foi punido/sentenciado a um inferno perpétuo/contínuo de frustração. Sua tarefa era empurrar uma grande pedra arredondada morro acima. Tinha que usar toda a sua força para mover a pedra. Cada vez que alcançava o topo, a pedra rolava e ia parar novamente lá embaixo. A tarefa de Sísifo exigia a corrida para baixo para começar tudo de novo. Sua tarefa nunca terminou. Nenhum progresso final foi alcançado. Não são poucas as vezes que a maioria de nós cristãos nos sentimos exatamente como Sísifo. É como a triste situação de Sansão na qual ele estava com os olhos vagos, seus músculos brilhando com o suor, andando em volta várias vezes num ciclo interminável de fadiga, indo para nenhum lugar, só cavando o trilho de seu caminho cada vez mais fundo. Esta é a imagem brutal do círculo. Juízes 16.21 – “Então os filisteus pegaram nele, e lhe vazaram os olhos, e o fizeram descer a Gaza; amarraram-no com duas cadeias de bronze, e ele virava um moinho no cárcere”. Sansão estava com os olhos vagos, seus músculos brilhando com o suor, andando em volta várias vezes num ciclo interminável de fadiga, indo para nenhum lugar, só cavando o trilho de seu caminho cada vez mais fundo. Esta é a imagem brutal do círculo.
A vida cristã, entretanto, não é fútil assim. Ela não segue o padrão do círculo. A imagem da vida cristã é uma linha. Ela tem início (regeneração), meio (santificação), e fim (glorificação). Existe uma meta final de glória. O Deus que começou todas as coisas no início tem um propósito para o Seu povo. O apóstolo Paulo em Filipenses 1.6 nos ensina: “Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”. Em Efésios 2.10 ele diz: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Na santificação Deus retira a lama de dentro de nós. Note que somos salvos não pelas boas obras, mas porque somos salvos realizamos, fazemos, praticamos as boas obras. Nesse sentido, o SIM que dizemos no ato da regeneração, bem como na santificação são conseqüências/efeitos da CAUSA que é a GRAÇA (O favor imerecido de Deus em nosso benefício – É Deus se tornando favorável a nós, e tudo isso a partir da Sua própria vontade), ou seja, porque somos convencidos pelo Espírito Santo para a salvação (João 16.7-13), assim o somos também na santificação. O Espírito Santo opera em nossos corações para vivermos uma vida que agrade a Deus. A misericórdia do Senhor que se renova a cada manhã, a Sua maravilhosa Graça regeneradora e santificadora operando em nosso ser e alma, como filhos perdoados pelo Pai de Eterno amor podemos dizer como Paulo: “Não que eu tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em cristo Jesus” (Filipenses 3.12-14).

A melhor orientação quanto à regeneração e santificação é ter sempre em mente o maravilhoso ensino da Soberania de Deus e da Responsabilidade Humana. Deus espera muito mais fraquezas e quedas de nós que nós mesmos não esperamos, mas nem por isso devemos viver como outrora, como diz o apóstolo Paulo: “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos” (Filipenses 3.16). Lembrando-se sempre de que se conquistamos algo é porque na verdade fomos primeiramente conquistados. “mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus...”

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