Uma dúvida. Aliás, várias!




Uma dúvida. Aliás, várias!

Meu pai e minha mãe me tiveram, mas desde os 5 meses que eu fui criado por minha tia paterna que era mãe solteira de 4 filhas.

Do meu nascimento até os 8 anos "morei em tanta casa que nem me lembro mais", fui abusado sexualmente por um cunhado à época do meu pai, mas que não é irmão da minha mãe, e sim da mulher de papai à época, presenciei muita coisa forte - que não desejo a quem quer que seja - na infância, até a pior delas que foi ver meu pai assassinado friamente diante dos meus olhos quando eu tinha apenas 8 anos, há três semanas de completar 9.

Tenho duas irmãs por parte de mãe, todas de pais diferentes e um irmão por parte de pai, mas que não é filho da minha mãe.

Você dificilmente vai me ver abrindo a boca para dizer que me faltou alguma coisa na vida, especialmente amor, pois recebi de modo incondicional das minhas primas que são como irmãs, da minha tia, e de tantos outros.

Nunca me faltou o que comer, o que beber, onde dormir.

Nunca fui rico, mas nunca passei necessidade, nunca tive fartura, mas nunca passei por miséria.

Sei que minha tia exerceu o papel de mãe e de pai, e olhe que ela já tinha quatro moças, e com salário de professora do município e do estado confesso que se Dilma chamasse ela para administrar o país, o Brasil teria jeito.

Tenho tradição católica romana e depois presbiteriana protestante de modo assíduo até os 26 anos, até o final de 2008.

Tive a oportunidade de reencontrar minha mãe, minhas irmãs e após 20 anos reencontrar meu irmão em outro continente.

E a parte do "já morei em tanta casa que nem me lembro mais" continuou, morei com avó, com outra tia, com minha mãe, em outra cidade, em outro estado, no meio do mato, com gente estranha (como eu), e entre idas e vindas hoje moro novamente com minha tia, aquela mesma que foi e é pai e mãe.

Nossa eu poderia escrever um livro...

Mas antes de você ler as quatro últimas linhas com a pergunta abaixo e acessar o site para votar, me responda uma pergunta que tem me deixado confuso: afinal eu tive, tenho, estive dentro de uma família?

Eu "tive" no sentido de gerar, pai e mãe, mas ao mesmo tempo não.

Não cresci com eles.

Não sou infeliz ou fico me lamentando por isso, e também não culpo eles.

Eles eram jovens, e a própria vida ensinou muito a cada um deles, assim como me ensina também.

Meu pai me amou e eu o amei até a última gota de sangue derramada e até o último suspiro que ele deu naquela noite de sexta-feira do dia 09 de outubro de 1992 no bar Paraíso (ele já teve um bar com este nome), no bairro Recanto do Sol.

Minha mãe eu a reencontrei e não tenho dúvidas do amor dela por mim.

É muito evidente o quanto ela me ama.

De quebra ela se casou com um homem cheio de amor que é meu Amigão.

Meu padrasto é um pai substituto.

Ele nunca teve filhos, mas assumiu a minha irmã caçula, a mim e a mais velha como se fôssemos filhos dele.

Mamãe não fique com raiva, mas ela sabe que eu me dou até melhor com ele do que com ela.

Falei, falei e continuaria falando para questionar a questão abaixo:

Qual é o sentido disto?

Eu não sou gay.

Eu sou hetero.

Eu creio no evangelho e no amor de Cristo, mas não sou evangélico, nem cristão (institucionalmente falando).

Mas se a questão abaixo for apenas um preocupação por causa da diversidade sexual, da igualdade de gêneros e das variantes de composição familiar...

Afirmo que minha tia que me criou é muito mais homem que muitos homens que eu conheço, e é por isso que quando um homem engrossa a voz para mim a vontade que eu tenho é de meter um soco na cara dele, mas quando uma mulher o faz a vontade que tenho é de ajoelhar e ficar de cabeça baixa.

Mas afirmo que após conhecer homens como meu padrasto aprendi a admirar e entender que nós do sexo masculino podemos ser gentis e amáveis uns com outros também, inclusive com os homens que gostam de homens e com as mulheres que gostam de mulheres.

Se todas estas questões apontadas não estiverem incluídas na questão abaixo, a questão não passará de mera declaração de desrespeito à vida e dignidade humana, pois eu sou apenas um caso de muitos que cresceram em um lar cujo a família não era constituída a partir da União entre um homem e uma mulher, por isso votei NÃO!


João Vicente Ferreira Neto

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