Democracia Versus Iniquidade: O purismo religioso à disposição do retrocesso democrático - Parte III
Existe uma segunda razão por que as pessoas desenvolveram uma aversão pela idéia de conversão.
Diz respeito à impressão de imperialismo arrogante que alguns evangelistas às vezes dão (12).
O que nos é proibido é toda retórica tendenciosa, toda manipulação deliberada de resultados, toda artificialidade, hipocrisia e representação, toda atitude de colocar-se em frente a um espelho com o objetivo de, conscientemente, planejar nossos gestos e caretas, toda autopropaganda e autoconfiança. De maneira mais positiva, devemos ser nós mesmos, ser naturais, desenvolver e exercitar os dons que Deus nos deu e, ao mesmo tempo, depositar nossa confiança não em nós mesmos, mas no Espírito, que concorda em operar por meio de nós (13).
Com Jürgen Moltmann, visualizo um imperativo à Igreja de Cristo de vivência pela integridade humana, onde esta comunidade humana de Cristo surja no mundo como antecipação do Reino de Deus (14). A luta pelo novo que vem de Deus é viver, sobretudo, uma fé pascoal (mas não Paschoal) em Cristo – Ele mesmo, filho de Deus, que foi preterido por uma população extasiada (talvez expressando sua opinião por meios de palmas efusivas) que gritou e apoiou veementemente pela libertação de Barrabás.
Considerações Finais
É difícil pedir para que a Igreja de Cristo jogue pedra caluniosa em nome de uma hipotética iniquidade. Nem a mulher adúltera, Estevão, os ladrões, os assassinos, eu mesmo, os homossexuais, os pobres, as crianças que morrem nos lixões de Curitiba (por causa do modelo monetário capitalista – a moeda que tem o rosto de César – que é a mesma que constrói grandes Igrejas Evangélicas), nem mesmo as crianças indígenas que morrem por problemas culturais, por doenças trazidas pelos comerciantes, por ladrões, por missionários bons e maus etc., devem ser objeto de julgamentos, mas de cuidado e amor. Quem deve ter direito à justiça? Quem deve ter direito à igualdade?
É tempo da Igreja de Cristo no Brasil descobrir que ela não vive mais em sociedades absolutistas. Se isso for verdade, o regime democrático que rege constitucionalmente o nosso país pede para que todos exerçam sua cidadania, conheçam a Constituição Federal e participem dos fóruns públicos visando a uma melhor regulamentação do direito público e do privado, sempre à luz da Declaração dos Direitos Humanos. Se alguém satanizar os Direitos Humanos, esse estará satanizando a garantia da liberdade religiosa dos batistas, presbiterianos, católicos, espíritas, negros, índios, brancos, pardos etc. Sem o direito do outro, não há o meu direito; sem o meu direito, não há o direito do outro. Se Deus não amar e cuidar do outro, por que ele haveria de amar e cuidar de mim? Se Deus cuida e ama a mim, por que ele não haveria de amar e cuidar de outros além de mim mesmo?
Fonte: http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=268
Por MANOEL RIBEIRO DE MORAES JR. É doutor em Ciências da Religião (UMESP), mestre em Ética e Filosofia Política (UERJ) e graduado em Filosofia (UERJ) e em Teologia (STBSB). É Diretor Acadêmico do Seminário Teológico Batista Equatorial/FATEBE e professor adjunto de Filosofia na Universidade do Estado do Pará (UEPA).
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