A homenagem de um paulistano ao centenário do Corinthians
A homenagem de um paulistano ao centenário do Corinthians
Na tarde de 9 de outubro de 1977, tudo no mundo parecia girar em torno do Corinthians. Até meu irmão vira-casaca, que hoje veste camisa do Santos, naquele dia era corintiano. Por volta de meio-dia, enquanto eu esperava a família para um almoço, ouvia os fogos explodirem por toda a cidade. Como o jogo seria só às 4 da tarde, minha cabeça ingênua de garoto, 8 anos recém-completados, teve certeza: naquele dia, todas as pessoas torciam pelo Corinthians.
Em minha vida, o futebol não nasceu assim. Eu já freqüentava estádios desde março de 1975, mês em que meu avô luso levou-me ao Canindé para um Portuguesa 2 x 1 Juventus.
Mas outubro de 1977 serviu para entender um pouco do Corinthians, um pouco da alma do Brasil, ou pelo menos da cidade de São Paulo.
Em 21 de setembro, o Corinthians perdeu para o Guarani no Pacaembu por 1 x 0, resultado que o obrigava a vencer os três adversários seguintes para chegar à final contra a Ponte. Ganhou do Botafogo, em Ribeirão, da Portuguesa, no Morumbi e, no primeiro domingo de outubro, dia 2, tinha de vencer o São Paulo. O rádio e os rojões me contaram a vitória por 2 x 1, gols de Geraldão e Romeu.
Na quinta-feira, dia 5, o Corinthians venceu a Ponte Preta por 1 x 0, gol marcado pelo nariz de Palhinha. Faltava vencer o segundo jogo contra a Ponte Preta para ser campeão depois de 23 anos. Seria naquela tarde de 9 de outubro, que terminou fúnebre.
Ao entardecer, a cidade emudeceu. Minha casa repleta de palmeirenses, são-paulinos e santistas era respeitosa, o que aumentou a certeza em minha cabeça de menino: todos torciam mesmo pelo Corinthians.
Na quinta-feira seguinte, só me lembro da casa vazia. Não havia um tio são-paulino, nem outro palmeirense, meu avô luso estava longe. Nem meu pai santista lembro de ter visto naquela noite. Lembro dos fogos de artifício. Da bola saindo do pé de Zé Maria, desviada por Basílio, do chute de Vaguinho na trave, do rebote de Wladimir, da bola salva em cima da linha, de Basílio estufando a rede. Lembro de correr para a varanda e ouvir o barulho da cidade onde nasci. A cidade era Corinthians.
No réveillon-corintiano, à meia-noite de 1º de setembro de 2010, o barulho da cidade era o mesmo. Minha filha acordou assustada. Ouvia os fogos, a festa, o povo. Havia 110 mil pessoas no Anhangabaú e não era dia de jogo. Quem estava em São Paulo à meia-noite ouviu rojões em todos os cantos.
Há depoimentos na Mooca, Perdizes, Lapa, Pirituba, em Itaquera. Em todos os cantos, quem estava em São Paulo teve a mesma certeza daquele garoto de 8 anos. Nessas horas, ninguém é contra o Corinthians.
Comentários