CARÊNCIA AFETIVA




CARÊNCIA AFETIVA

Três décadas se passaram e percebo que alguns colegas. Isto mesmo, colegas! Se preocupam demais com nossa "vida" sentimental.

Digo colegas, pois os amigos não enchem a nossa paciência tentando nos convencer a todo custo a ter que namorar ou estar com alguém.

O que é perceptível já de algum tempo, e só vai se alastrando é a carência afetiva que há na maioria das pessoas, independente da faixa etária ou "classe" socioeconômica, a carência e o vazio é quase geral.

O mais triste é que muitos relacionamentos são apenas de aparência, status social, ou o velho medo de ficar só. Daí fica infeliz com este alguém, fazendo-o infeliz e sendo infeliz, mas não fica só em paz e alegre.

Não tenho dúvida que é bom estar com alguém, e ao invés de ter alguém, "ser com" este alguém. Todavia se for apenas uma resposta para a sociedade, a família, para ter uma boa fotografia, um sobrenome importante ou diferente, para sair de casa, pois cansou de morar com os pais, faça o favor de não arrastar para o abismo alguém que pode ser especial para você, mas você não ama com o amor de quem quer construir algo com este outro.

Há muita gente com aliança no dedo que é mais infeliz que eu e muitos outros solteiros.

Mulheres bonitas, interessantes, inteligentes, de boa família ainda há, e não são poucas, assim como homens. Temos uma mania terrível de dizer que tudo está perdido, mas é mera carência, vazio. É muito importante ter paz e estar bem consigo mesmo. Amar implica em sofrer sim, mas é um sofrer consciente, e não alienado ou doentio, possessivo e controlador. Aos 15 é compreensível ver um adolescente desejando morrer pelo fim de um relacionamento, são as primeiras dores de amor, mas daí chegar aos 30 e ficar vivendo como se tivesse 15 é se portar feito retardado (alguém que amadurece tardiamente).

Hoje estou solteiro, estou feliz, e pode ser até que eu fique solteiro pelo resto dos dias que Deus me conceder sobre a terra, sempre considerei esta possibilidade e não vejo mal algum nisto.

Confesso que não fossem meras questões conceituais e doutrinárias eu facilmente seria um padre ou um monge, a reflexão e a meditação são bens perenes.

Não vivi tudo, nem quero, mas já vivi algumas coisas que me levaram a refletir que se não as tivesse vivido, elas não me fariam falta, todavia se vivi, ficam ao menos as lições.

Não basta ter química, química um homem tem por algumas mulheres, e dependendo do homem por muitas ou por todas. Sexo é bom, foi Deus quem criou, mas se deitar de cama em cama é mero esvaziamento da alma, do ser. É apenas o desfrutar de momentos de prazer sem chegar a lugar algum, é estar perdido na chegada, e ainda mais na saída. Desfrutar muitas frutas pode até ser saboroso, mas meramente fugaz. Sacia o anseio momentâneo e nada mais. Aprender a tirar doce e ternura da mesma fruta é para poucos, todavia quando mais se consegue, mais saborosa fica.

De que vale ao homem conquistar mil mulheres, mas a única a quem amou ou ama é impossível ou quase impossível ser um com ela, não foi esta a crise e a dor de Salomão?! O homem de mil e poucas mulheres que teve a todas e não teve uma sequer. Pois tendo todas, não teve a única a quem amou, ainda que a tivesse oferecido todo o império.

Semear em oásis de tempo em tempo, semana após semana, mês a mês e trocar rotineiramente de "companheira" não é algo difícil, especialmente nos nossos dias. Viver de conquistas é especialidade do homem, especialmente se houver variação.

Todavia conquistar a mesma mulher sempre de diversas maneiras e modos só sendo muito macho mesmo. É fazer florescer no deserto por décadas. Amar a mesma mulher todos os dias, como se fosse a primeira vez. Impossível? Não. Mas neste caso não é algo comum, está cada vez mais em extinção.

As almas não se encontram mais com a mesma frequência, os corações, os propósitos, as consciências e os desejos já não trilham mais caminhos comuns, há muita diferença, há muita indiferença.

Como disse Lewis "não há caminhos prontos, o ir faz o caminho", mas daí pegar na mão de alguém e despertar nela algo que não se quer viver de fato é um dos atos mais covardes que podemos cometer, e justamente por já ter sido covarde, já ter me acovardado e ter sofrido covardia que vou cuidando de mim, na graça e na dependência daquEle que sabe das minhas carências, anseios e necessidades mais que eu mesmo, quanto mais dos colegas que anseiam me arranjar um par.

Se já na adolescência nunca gostei da possibilidade do arranjo, ainda mais agora com três décadas de vida e alguns fios brancos.

Se há uma coisa que todo homem deve aprender na caminhada, este caminho é do encontro com uma mulher que faça seu coração arder, sua alma vibrar, sua consciência despertar, e o mais importante, que o faça se sentir bobo. E disto não se precisa de auxílio.

Todo ser apaixonado (meu conceito de paixão é judaico cristão, portanto paixão significar sofrer, mas este gostar de sofrer, não é como louco, mas semelhante ao Cristo) em estado de amor fica bobo, o vulgo "abestalhado", e disso não devemos nos envergonhar.

É saudável nutrir uma boa amizade. E isto é possível entre um homem e uma mulher. E às vezes de tal amizade brota um amor genuíno. Uma paixão verdadeira. Amigos podem se tornar verdadeiros amantes, assim como todo amor deve ser uma leal, preciosa e eterna amizade.

Só aceita o outro quem se aceita...
Só ama ao outro quem se ama...
Só cuida do outro quem cuida de si...

Só se encontra a pessoa "certa" quem se faz, ou quem caminha como a pessoa "certa"...

Só recebe quem se entrega, quem se doa...

É "perdendo" que se ganha, e ganhando se reparte, se divide, ou melhor, se multiplica...

O essencial é fazer com amor todas as coisas, seja com a amiga ou com a paixão, e caso ambas sejam a mesma pessoa, melhor ainda!
João Vicente Ferreira Neto

Comentários

Unknown disse…
O essencial é fazer com amor todas as coisas, seja com a amiga ou com a paixão, e caso ambas sejam a mesma pessoa, melhor ainda!
Muito bom.