Podemos ser a Itália de 1982...


Podemos ser a Itália de 1982

Há um discussão que se prolonga, desde os meios mais entendidos a quintada da dona Maria e ao barzinho do seu José, se o Brasil será ou não campeão do mundo de futebol este ano. 

Tudo se dá, especialmente, pelo pífio desempenho do selecionado canarinho dentro das quatro linhas até aqui. 

Se passamos na primeira colocação e ontem avançamos depois de 120 minutos mais acréscimos e pênaltis, sem novamente convencer sequer a tia da mercearia na esquina, quanto mais aos críticos e amantes do futebol a pergunta que parece não ter uma resposta continua: Com este futebolzinho, como seremos campeão?

É estranho, e claro, meramente hipotético, mas a seleção italiana campeã do mundo em 1982 é a inspiração, ou melhor, a referência.

A Squadra Azzura fez sua estréia diante da Polônia e empatou em 0 x 0, na segunda rodada novo empate desta vez diante do Peru 1 x 1, e na terceira e última rodada os italianos voltaram a empatar, desta vez contra Camarões também em 1 x 1. Camarões que foi nosso terceiro adversário neste mundial, vencemos por 4 x 1 e tivemos nossa melhor apresentação, se é que podemos chamar aquela atuação de melhor.

A Itália avançou na segunda colocação mesmo com os três empates e um futebol muito aquém da tradição e qualidade do seu selecionado. Naquela época o mundial era disputado por 24 seleções divididas em seis grupos com 4 seleções, onde as duas primeiras passavam a fase seguinte. Não havia a fase quartas-de-finais, e sim novos quatro grupos divididos com três seleções, as campeãs de cada grupo se cruzavam nas semifinais.

Na fase seguinte a Itália caiu no grupo do Brasil, que havia vencido todos os jogos do mundial até ali, sendo 2 x 1 sobre a União Soviética, 4 x 1 na Escócia e 4 x 0 na Nova Zelândia. A Argentina por na segunda colocação após perder na estréia para a Bélgica por 1 x 0, vencer a Hungria por 4 x 1, e encerrar a primeira fase vencendo El Salvador por 2 x 0.

Brasil que até aquela fase tinha o melhor ataque e a seleção considerada por muitos como a melhor, mais talentoso e com o futebol mais bonito jogado em uma Copa do Mundo até hoje, superando inclusive a mágica seleção brasileira de Pelé e companhia de 1970.

Nosso técnico era nada mais nada menos que o mestre Telê Santana. Jogávamos com Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior, Falcão, Cerezo, Sócrates, Zico, Serginho e Éder. Nosso camisa 9 seria Careca que se lesionou as vésperas do mundial, ironia ou não a talentosa geração colombiana não terá o seu camisa 9 Falcão Garcia que se machucou antes do mundial, com isto não quero comparar esta geração da Colômbia com o Brasil de 1982, embora proporcionalmente esta geração deles seja tão talentosa para história da Colômbia com aquele Brasil de 1982 foi para nós. Dávamos ao luxo de termos no banco jogadores como o zagueiro Edinho e os atacantes Paulo Isidoro, Dirceu e Roberto Dinamite.

A Itália começou aquela fase vencendo a Argentina por 2 x 1 que três dias depois levaria um baile da seleção canarinha por 3 x 1 com gols de Zico, Serginho Chulapa e Júnior. No dia 5 de julho a Itália teria seu maior desafio, vencer o futebol que encantava o mundo, e talvez nem o mais otimista dos torcedores acreditavam em uma vitória italiana. O Brasil precisava apenas de um empate para seguir adiante. O fato é que em tarde inspirada de Paolo Rossi a Itália venceu Brasil por 3 x 2, seguiu adiante e nas semifinais venceu a Polônia com dois gols do destemido Paolo Rossi por 2 x 0, a mesma polônia com quem havia empatado por 0 x 0 na estréia e bateu a Alemanha Ocidental por 3 x 1 se sagrando tricampeã do mundo igualando ao Brasil em títulos.

Assim como naquele ano Camarões foi o nosso terceiro adversário, a diferença é lá eles empataram e nós goleamos, mas ambas as seleções não convenceram. Também não voltaremos a enfrentar os mexicanos, pois sucumbiram diante do futebol mais eficiente e letal desta copa, falo da Holanda. Todavia as semelhanças aquela seleção italiana são muitas: Um futebol feio de se assistir, uma seleção confusa ou perdida técnica e taticamente, com uma oscilação física por parte do elenco, uns no auge da forma e outros suscitando muitas dúvidas, o peso e a tradição da camisa, uma campanha pífia e muito sofrimento até a fase crucial do mundial. Todavia temos dois pontos importantes ao nosso favor: Neymar é muita mais jogador que Paolo Rossi e nós jogamos em casa.

Diante da Colômbia podemos fazer o que a Itália fez com aquela maravilhosa geração canarinha de 1982, e assim entrarmos no mundial justamente na fase que ele mais exige de uma seleção tradicional, na sua fase final, depois podemos cruzar com a Alemanha ou França e numa final enfrentarmos a poderosa seleção holandesa ou fazermos a final dos sonhos ou dos pesadelos diante da Argentina de Lionel Messi. Como futebol é um esporte que fere a lógica, e alguns casos é injusto, no sentido de que nem sempre o melhor futebol apresentado, o melhor time, a melhor seleção vence, como foi com o próprio Brasil em 1982, confesso que fico na expectativa de sermos a Itália de 1982.
  

João Vicente Ferreira Neto

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