EXPECTATIVA(S)
EXPECTATIVA(S)
Dois bordões, um indiscutivelmente conhecido, mas extremamente perigoso. O outro nem tão famoso assim, ou ao menos como deveria, mas profundamente didático, terapêutico e restaurador.
Na célebre obra o pequeno príncipe lemos: "tu és eternamente responsável por aquilo que cativas", pode soar como uma declaração de amor, mas na verdade é um caminho de morte, se não física, ao menos da alma, do coração, do ser. Este é o primeiro bordão.
O outro é bem menos conhecido, mas incômodo, e diz: "Nós somos vítimas das nossas próprias aspirações, assim quanto maior a expectativa, maior será a decepção". Todavia este é um caminho de vida para si e para o outro, caso haja disposição para reconhecer.
O primeiro é morte, pois transfere para o outro uma responsabilidade que é minha.
O segundo é vida, pois tira do outro uma responsabilidade que não o pertence.
O primeiro imputa no outro uma percepção que é minha.
O segundo salva o outro de mim, e me salva de mim mesmo.
O primeiro é morte, pois é belo na aparência, mas seco, vazio e sem sustentação nas raízes, pois é pautado pela culpa, e não há nada mais letal na vivência humana que a culpa. A culpa mata, começa do lado de dentro, mas pode tomar conta de nós por inteiro como uma metástase, sem nos darmos conta, e isto é profundamente triste.
O segundo é vida, pois não viveremos mediante as escolhas e palavras do outro. Não viveremos refém do outro. Não responsabilizaremos quem não é responsável por uma escolha que começou em mim, que foi feita por mim, sem o consentimento do outro, sem o conhecimento do outro.
Todavia, porém, entretanto...
O primeiro é cômodo, confortável e mais fácil de se escolher, pois caso não vá adiante, se torna conveniente, afinal é sempre, sempre, sempre mais fácil culpar o outro a assumir a responsabilidade da minha escolha, ou escolhas, especialmente após as consequências, e se elas forem drásticas então, sem comentários.
Nós costumamos não nos lembrar ou não termos consciência da importância das juras e promessas que fazemos na hora e no momento que as fazemos, mas se lembrássemos que quem as fez fomos nós, evitaríamos muita dor, seja para nós ou para o outro.
Com isso não quero dizer que as dores da vida e na vida não devem ser sentidas, mas que há dores que são completamente desnecessárias e passíveis de serem evitadas.
Fico com a segunda opção.
Embora não seja tão bela, tão célebre, tão confortável. É confrontadora, incômoda, nos tira da letargia, do "eternamente deitado em berço esplêndido", da posição de vítimas, daqueles que sofreram injustiças e foram deixados pelo caminho, mas no possibilita a amadurecermos, a "enxergarmos os arco íris após as tempestades", a sentir a dor e a desfrutá-la como quem desfruta a vida com alegria, com sabor, ternura, leveza e amor. Até a dor se torna amena e terapêutica. A necessidade e as dificuldades forjam o caráter e faz o ser.
A segunda é caminho de vida, pois nos possibilita a não apagarmos o outro da nossa existência pelo simples fato da história não ter ido adiante. Nos dá a alternativa de mesmos machucados seguir em frente sem levar amargura e rancor a respeito do outro, pois nos compreendemos como responsáveis em um processo cuja a escolha nasceu em nós, e não no outro.
Só quando paramos de esperar por algo que o outro possa satisfazer em nós sem jamais poder de fato - pois os processos que ocorrem no nosso íntimo só nós o sabemos, e algumas vezes, nem nós sabemos discerni-los, quanto mais o outro que é fruto das nossas idealizações - e serem vistos pela viés da realidade, pelo caminho de vida, é que deixaremos de apenas existir, para significativamente vivermos.
Idealize menos, e viva mais...
Espere menos tanto do outro, bem como de si, não é bom se cobrar demais e esperar de si o que você lá no íntimo sabe que não é capaz de dar e/ou corresponder.
Viva com leveza um dia após o outro, sem grandes expectativas, permita que a vida seja a sua melhor expectativa todos os dias, como costumo dizer, sonhos são melhores sonhados quando vividos, enquanto esperamos há aqueles que estão vivendo, e isto é o belo da vida e na vida, pois ela não acontece nas idealizações e nas expectativas de quem quer que seja, nem no amanhã, mas no aqui e agora, no que chamamos de hoje, por isso vou dar continuidade e terminar de enxugar as roupas, a vida continua...
Um beijo na alma e um abraço terno no coração, um ótimo domingo a todo vocês...
Aproveitando os "bordões", nas expectativas uma letra faz toda a diferença: AmarGura x AmarCura!
João Vicente Ferreira Neto
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